Em um só relance e lá estava Ele. frio, cor de gelo - tão sincero, meu deus. Era O próprio que me fitava, e não eu que sequer tive coragem de olhar o que nele tinha. O Espelho. O Supremo delator das verdades que quem dera fossem alheias: eram as minhas verdades. Geladas, opacas, sem curvas, com arestas grossas e feridas.
E lá estávamos nós, eu e Ele. No meio do lodo - eu de um lado, Ele do outro.
Era impossível de olhar o que ali nele continha. Pois que pus narciso na frente. E só vi a casca. O ovo rachado que eu era. Escorrendo pra todos os lados, gema e gema de dor.
Ah, que maldito.
Meu coração de pedra! Sim! ELE! O arranquei, arremessei sem olhar! Mil pedaços de vidro, de areia, de verdade, todos espatifados e eu finalmente liberto? Não.
Após o tulmuto e a surpreendente vida que senti, olho pro caos que formei. Agora me vejo em pedaços, e é pior que tentar idealizar um todo. São centenas de mim, milhares talvez, TIREM ISSO DAQUI!
Meu corpo reluz vidro, pó de espelho, cintilando, grudando, sangrando onde cortou. Mais fluído correndo pra todos os lados, mais de mim escoando e eu sem querer ver. e como dói.
vem a redenção: nos damos as mãos, finalmente, em sentido de paz.
e o que vejo? não sei. como dói. e como me dóem os olhos. o pó do espelho, de tão maldito, a essência do espelho, de tão onipresente, me entraram as córneas e as arranharam com o grito da revolta suprema.
Nada mais eu enxergava.