31 de mai. de 2008

.amanda lepore.





diva-mor, referências artísticas e fotográficas (no post, ambas de david la chapelle).


a-m-o.

30 de mai. de 2008

.pedaços [2].




"Trancar o dedo numa porta dói.

Bater com o queixo no chão dói.

Torcer o tornozelo dói.

Um tapa, um soco, um pontapé, doem.

Dói bater a cabeça na quina da mesa,

Dói morder a língua, dói cólica, cárie.



Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de uma irmã que está longe.

Saudade de uma cachoeira da infância.

Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.

Saudade do pai que mora longe,

do amigo imaginário que nunca existiu.

Saudade de uma cidade.

Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.



Doem essas saudades todas.



Mas a saudade mais dolorida, é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.

Saudade da presença, e até da ausência consentida.



Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem,

mas sabiam-se lá.

Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade,

mas sabiam-se onde.

Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem te ver,

mas sabiam-se amanhã.



Saudade é basicamente não saber.

Saudade é não saber mesmo!



Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos

Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento

Não saber como frear as lágrimas diante de uma música

Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.



É pensar no bem que ela te fez sem se dar conta,

é pensar no bem que ela continua te fazendo

mesmo de longe,

mesmo doendo."


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Ai, descobri este texto através de Ju, grande amiga de todos os tempos e horas... e não é que o desgraçado disse tudo que eu tava sentindo? Ê, bálsamo miserável! sim, pq a onda sentimentalóide ainda continua. E, enquanto não passa, kate nash no som ajuda.

29 de mai. de 2008

.pedaços.




a
saudade longa infinda
o tempo escorrendo calado no seu momento de vazio
e a angústia cantando besteiras pra eu não dormir.

o relógio eternizando mil segundos sem instantes
nossa ânsia física doendo no corpo e na distância
e as peles que falariam mais suaves que esta respiração ofegante de saudade.

ah, a herança que me perpetuaria e deixaria teu toque...


a porta que ri bate e volta no tempo
a solidão do espaço repleto de lembranças tuas
e eu quase desesperado rindo baixinho pra te ter.


ah, pra me ver dentro de você de uma vez e sem ser só...


- a vida enfim repleta, de pedaços teus, e de amor.






(ok, acordei sentimentalóide hoje. Acima do normal).
(foto: MAC, Olinda).

28 de mai. de 2008

.la la la la la la la... .

E não é que hoje é o aniversário da Kylie Minogue? Meu vício pop que grudou de um jeito "indesgrudável", rs... pela sua feminilidade, charme, referências culturais e seu som pop mais alternativo. Pois sim, pra mim ela vai ser sempre a melhor.

Confesso que descobri uma faixa meio esquecida dela, um b-side de 2000, chamado Ocean Blue... "unreleased" do álbum fodástico "light years", homenagem da diva aos anos 70. E esta faixa, acima da média, não consigo parar de ouvir. Acho a melodia linda demais... melancólica... além da letra, de uma simplicidade que me faz refletir em muitas situações complexas.

A nível de curiosidade (e de homenagem, claro - pois fazer 40 com cara de 20 e tantos, fora um câncer curado, não é pra qualquer um), deixarei aqui por minha conta a letra traduzida e mais um vídeo que eu acho espetacular - produção dela com o dj japonês Towa Tei, GBI.

vida longa, kylie! je t´aime.

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Ocean Blue

Tudo leva ainda algum tempo,
e memórias sempre me levam pra longe...
Para onde o sol está dançando no mar
E eu agradeço a deus por isso.

Oceano Azul
(Azul meu céu),
Chamar por você
Colore minha mente.

Flutuando no tempo
E pensando em você,
Oceano azul.

Analisando minhas questões,
O silêncio mostra-me os caminhos...
Fazendo minha marca amanhã
Fazendo nada hoje.

Flutuando no tempo,
Pensando em você,
Oceano azul.

Vivendo e sonhando, sempre acreditando...
Agradeço a deus por isso.




GBI: http://br.youtube.com/watch?v=97_CP-bf6h8

25 de mai. de 2008

.domingo.

Esta foi no Rio de Janeiro... também em um domingo. Eu tão longe de casa. Minha casa gritando de saudade, dentro do coraçãozinho apertado.


Pois bem: após uma manhã de chuva e quatorze graus, o final de tarde se abre num sol lindo (coisas do tempo louco do Rio) e eu fui direto pro calçadão da praia... pensar na vida, pedalar, essas coisas de sempre.

Ao longe, escuto um batuque que me é muito familiar... mas achei que ele estava dentro do meu mundinho de pensamentos... não era possível, ali, em pleno sudeste, estar ouvindo um... um... MARACATU?


Apressei os passos, precisava ver aquilo já que os ouvidos não estavam crendo no que ouviam. E não é que era mesmo um maracatu, de um pernambucano radicado na cidade há anos?


Não sei se foi coincidência, porque neste dia a saudade de casa estava grande... e por isso nem senti quando, parado, com o pôr-do-sol ao fundo no Morro de Dois Irmãos, a primeira lágrima rolou.


Celular em punho, interurbano. Destino: Recife.


- Alô? Minha Linda! Está ouvindo?

- Diegoo! É samba? Não dá pra ouvir direito...

- Vou chegar mais perto pra você ouvir... (aproximo-me). E agora? Está melhor?

- Ahhh, maracatu? como assim? Está em Recife?

- Recife está na minha alma, assim como você está no meu coração e não poderia deixar de ligar neste momento. Porque você precisava ouvir isto comigo, mesmo a 2000 km de distância.



E choramos juntos.

23 de mai. de 2008

.assisti e indico: XXY.




Vi este filme ainda ano passado, na mostra Expectativa/Retrospectiva da Fundaj aqui em Recife. E a reação da platéia foi tão contraditória, com risos maliciosos, que eu ainda não consigo visualizar o porquê de tanto preconceito existente, sobretudo quando o hermafroditismo é tratado como neste filme, de forma tão natural.

Escrito e dirigido por Lucia Puenzo, XXY é baseado no conto Cinismo, do escritor argentino Sergio Bizzio, que é marido da diretora. Foi o grande vencedor da Semana de Críticos de Cannes ano passado.

O florescer da sexualidade pode ser abordado de muitas formas pelo cinema, mas este filme – co-produzido entre Espanha e Argentina – encontra uma forma única de abordar um drama desse gênero ao explorar de forma delicada como uma menina de 15 anos é capaz de enfrentar o fato de ser hermafrodita.

Alex (Inés Efron) vive num povoado de pescadores no Uruguai. Seus pais, Suli (Valeria Bertuccelli) e Kraken (Ricardo Darín, de Nove Rainhas), moravam em Buenos Aires (Argentina), mas, com o nascimento da filha hermafrodita, resolveram mudar-se para o povoado a fim de manter-se longe dos olhos preconceituosos da sociedade. A ação de XXY tem início quando Erika (Carolina Pelleritti), amiga de Suli, viaja ao Uruguai acompanhada por seu marido médico Ramiro (Germán Palácios) e o filho adolescente Alvaro (Martín Piroyansky). A visita da família tem como objetivo definir de vez o gênero de Alex: com os dois órgãos sexuais, ela tem de decidir se quer ser homem ou mulher, escolha concretizada por meio de uma cirurgia.

Ao invés de explorar o drama que envolve a protagonista por conta da escolha, XXY prefere tratar a situação de uma forma sincera e honesta, abordando os tipos de problemas que qualquer outro adolescente teria: o sexo, a vergonha em relação ao próprio corpo, a insatisfação com a vida. Claro que todos esses problemas são únicos em relação a Alex por conta de sua situação. O filme se passa muito próximo ao mar, onde existem espécies naturalmente hermafroditas, como os cavalos marinhos, como uma forma de aproximar a personagem à “normalidade”.

Todos os dramas do longa são tratados de forma digna, como se os personagens sofressem sempre sozinhos. Por isso, sua boa interpretação é crucial para que o espectador emocione-se de forma quase que involuntária. XXY passa longe de qualquer tipo de sensacionalismo que o tema poderia acarretar e esse é um dos grandes méritos do filme, dirigido por Lucia Puenzo. Tudo é desenvolvido tendo como base a situação psicológica de cada personagem; por isso, são todos muito bem-desenvolvidos, com destaque para a atuação fria e contida de Ricardo Darín, que dá a densidade necessária ao seu papel.

Pois bem, eis que o filmaço volta a fundaj. Corram. E reflitam.




(fontes: yahoo cinema, cineplayers).


22 de mai. de 2008

.feriado e sensação de borboleta.


Fernando Pessoa sempre me toca as feridas no epicentro, naquele ponto certeiro que dá uma dor desgraçada. Mas ele sempre salva meus dias.



"É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada."



foto: Olinda, cidade alta, Recife ao fundo.

20 de mai. de 2008

.ah,mar.

Hoje eu vi o mar. É, o mar. E estava tão lindo... naquela sua maresia indignada, cobrindo meus pés em toque de seda, suavidade azul-marinha. E de uma calma ampla, vagas sedutoras...

Tudo dava medo. Um medo sedutor. Porque tudo ali era tão belo. Porque eu já havia chegado com medo.

E eu com este medo corria fofo e sem fim, pela areia acordada sob pegadas, rastros perdidos de pessoas e pensamentos, e meu pensamento perdido nas pessoas - a lua gritava mansa que ali bem em cima estava, reluzindo nas minhas pupilas seu tom de lâmpada florescente. Não havia dúvidas de que ela quase me cegava, tamanho seu brilho assombroso. Brilho que cegava o espírito.Navalhava meu coração em quinze mil pedacinhos, todos levados ao mar.

- mar de prata, turquesa. verdejante. quase infinito.que chega até a áfrica.até o japão.até minha casa.até à areia.

- areia calejada de mil pés, mil vidas, mil toneladas de água e sal. sorrisos com gosto de areia.


Vai, vem. vai, quebra. vem. vem, vai. vai: e o alumbramento de estar ali vinha sem ser em pedaços, de uma vez só. e doía, de tão grande que era. mal coube neste coraçãozinho repartido, jogado ao mar e não por oferenda.



SIM, SIM, porque era uma angústia que não queria calar, entrecortada entre o barulho das ondas sem fim! e meu grito foi abafado por tanta coisa, tanto barulho, tantas ondas, meu querido deus!

Senti o peso do mar todo nas minhas costas.
Mas nem doeu, porque mal olhei pra tudo isto. O foco era o que estava por cima das pegadas: EU.EU.EU. Indo, vindo, indo e vindo. E me sentindo vivo, num ímpeto de estar passível a tantas possibilidades de caminhos: caminhos que sempre levam pro mar.

17 de mai. de 2008

.sábado, chuva, poesia e músicas.

no som: cibelle sussurra "meu amor".
lá fora: chuva.
na alma:


,é assim que tudo começa...
... e nada termina assim tão fácil
do nosso jeito.


(vírgula).



com tudo
entre tanto
toda via
-todavia-
deu para o desalento
e eu nem me alumbrei
nem me peguei rindo
só percebi
admirado
que um poema e um momento
para que venham do coração
não podem deixar de ser simples

-afinal, tão complicado é o coração.




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e mais, muito mais: Mário Quintana pra minha doce Ju.

"Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor."



como palavras me tocam tanto assim? como a chuva me acalma tanto assim? e essa música, como me rasga assim no meio?


resposta nos versos do meu poema, logo lá em cima, primeiras linhas: nem sempre é fácil perceber o óbvio.

15 de mai. de 2008

.fièvre/febre.

dia de um friozinho... sinto a cama gelada, o quarto escuro...

versos vasculhados no armário, antigos e frios, são achados.


"Il y a beaucoup de froid
mais l´avidité est encore la même
la fait continue dans le coeur,
coagulante et dilacérante, comme toujors.

Por toujours.

C´est touchante, la totalité de le bonheur
Mais qui aime se traîne
A chémin de la felicité glaciale
- et sévère."

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"Há muito frio
mas a sofreguidão ainda é a mesma
a fé continua dentro do coração,
coagulante e dilacerante, como sempre.

Para sempre.

É patética, a totalidade da felicidade,
mas quem ama se arrasta
a caminho da felicidade glacial
- e severa."

13 de mai. de 2008

.arte moderna mexicana ao alcance do público recifense.




As obras de um dos mais importantes nomes da arte moderna mexicana ficarão expostas pela primeira vez no Recife. Durante três semanas, entre os próximos dias 6 e 30 deste mês, o público poderá apreciar no Museu do Estado a exposição La Muerte Ilustrada, uma série de zincografias de José Guadalupe Posada, tido como marco na arte e iconografia daquele país. A mostra é resultado de parceria entre a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco - Fundarpe e o Consulado Geral do México no Brasil.

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Inédita no Nordeste, a mostra já circulou por conceituadas galerias de arte, como o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e a Galeria Vitrine, da Caixa Cultural, em Brasília. As peças que estarão em exposição integram o acervo de 50 peças pertencentes ao Ministério das Relações Exteriores do México. São 37 gravuras de Posada, sete feitas em parceria com o artista plástico conterrâneo Manuel Manilla, parceiro e precursor do artista, além de três obras exclusivas de Manilla e outras três de autoria desconhecida.

A morte sempre foi recorrente na obra de Posada. As zincografias - técnica de desenho sobre lâminas de zinco, criada pelo artista - que poderão ser vistas no Recife exemplificam o sentido dramático, mas irônico da temática, sempre presente na cultura mexicana. De acordo com o secretário estadual de Cultura, Ariano Suassuna, uma das características mais marcantes do artista é o vínculo estabelecido com a arte popular do seu país.

“Só estranhará a sua obsessão pela morte, refletida nos esqueletos que desenhou e viu em toda parte - até mesmo nas ações gloriosas do valoroso cavaleiro Dom Quixote de la Mancha -, quem desconhece o significado mais profundo do culto à morte para o povo mexicano. Ele é manifestado nas festas em que caveiras de açúcar e de papel são reverenciadas junto com esqueletos coloridos de fogos de artifício, casas são adornadas com crânios e pães em forma de ossos são servidos à mesa”, afirma Ariano.

Para o diretor de Difusão Cultural da Fundarpe, Adelmo Aragão, “trazer obra de Posada representa, sobretudo, um esforço significativo do mestre Ariano Suassuna, que estabeleceu uma articulação com o cônsul honorário do México no Recife, Antônio Dubeux, demonstrando o interesse do Estado em compartilhar o trabalho de um artista autor de obra tão significativa”.

História - José Guadalupe Posada nasceu no México em 1852. Ele utilizava sua arte como um instrumento de contestação durante a ditadura de Porfírio Diaz. O trabalho é composto de caricaturas políticas e ilustrações de cenas cotidianas, que demonstram o caráter satírico do gravurista. O artista foi criador da zincografia, que permite o trabalho com recursos, como luz e sombra e meios tons.

Alguns artistas, como o pintor Diego Rivera, consideram Posada “o pai da arte moderna mexicana”. Nas 20 mil gravuras que compõem sua obra, Posada realizou um trabalho plástico extremamente político, a exemplo da série Calaveras (caveiras, em espanhol), representações caricatas do cotidiano do povo mexicano e de personagens históricos e literários como Zapata e Dom Quixote. Essa série ilustra a visão do artista em relação à morte, admitida como um acontecimento essencialmente democrático, pois atinge a todos, sem distinções. Dessa forma, Posada transformou essa referência fúnebre num verdadeiro culto de resistência popular contra a opressão do governo porfirista.

Taí a sugestão: as zincografias de Posada serão expostas no Casarão do Museu do Estado, no horário das 9h às 17h, de terça a sexta-feira, e das 14h às 17h, aos sábados e domingos. O ingresso tem um valor simbólico de R$ 2,00, com meia-entrada para estudante.




.tamanho (historieta mensurada em bloquinhos).


Há "quanto", neste caso, porque não há nada para gastar:


a mãe dele comprou uma caixa, mas veio cheio de música;
guardou-a de ouros tolos, jóias ralas: era o tesouro de sua vida.
já o tesouro dele eram os livros de capa azul;
mas aí gastou-os tanto quanto quis fazê-los de livros.

Jóia. Ele era feliz e não sabia.


É o que bem dizia o velho clichê - clichê como tesouro achado num baú desses baús da mãe dele.
Mãe que: de olhos fechados o punha no colo, pausava o mundo
e abraçava a música, a caixa, ele, o mundo,
e o tanto quanto que não se pode gastar: o tamanho das coisas.

(O mundo parava bem ali, e sentiam inconscientemente que nada se mede. Tudo assusta.).


Porque eram felizes, e não sabiam.
Eram, e não sabiam.

10 de mai. de 2008

.indico: a gaivota, grupo piollin.


Super sério: há exatos quase dez anos, assisti na primeira fila do teatro Apolo, em Recife, sozinho, a peça mais linda e impactante que já vi em toda minha vida. Chamava-se Vau da Sarapalha e eu não sabia se ao final enxugava as lágrimas ou se conseguia raciocinar algo ou aplaudir fervorosamente.

O grupo responsável por tal façanha? O Piollin, da vizinha Paraíba... eis que agora voltam amanhã à cidade para apresentar um novo espetáculo, A Gaivota (sim, o clássico russo de Tchécov).

Segundo o site do grupo, a opção pelo espetáculo de Tchécov, que narra os conflitos de um jovem escritor, foi uma decisão de contrariar a tendência das companhias nordestinas de buscar constantemente conteúdos regionais. O grupo, voltado para a criação de novas linguagens cênicas e para a inclusão social, decidiu quebrar a hegemonia dos clássicos, geralmente encenados por artistas das regiões Sul e Sudeste.

O texto de Tchekov utiliza o ambiente teatral para expressar sentimentos comuns a todos os artistas, sempre em volta com as complexidades e dúvidas advindas de seu processo criativo. A metalinguagem usada, porém, está longe de interessar apenas àqueles mais familiarizados com as questões teatrais, pois os conflitos dos personagens criam uma ligação direta com o leitor/espectador ao mesmo tempo em que apresenta uma visão profunda de uma sociedade cada vez mais vulnerável aos males existenciais.

Em completa sintonia com o texto, Haroldo Rego trata destas questões em uma releitura aguçada, a partir de criativas soluções estéticas encontradas para manter um diálogo com as inquietações formais contidas em Tchekov. Neste ponto, já foi bem observado o minimalismo contido nos elementos cênicos da encenação, a começar pelo uso fascinante de um ventilador e um saco transparente de supermercado.

Não se trata de um experimento hermético e 'moderninho'. O vigor da peça está justamente na forma sóbria que o grupo lida com o texto, incorporando elementos contemporâneos sem diluir a força dos conflitos da trama. Privilegiando uma estrutura quebrada, em blocos, a 'história' é intercalada por pausas narrativas que quebram a 'ilusão de realidade' da peça e coloca o espectador num espaço-tempo não determinado.

O texto, rico em poeticidade e imagens, é encenado com paixão e frescor pelos experientes atores em cena (Ana Luisa Camino, Buda Lira, Everaldo Pontes, Nanego Lira e Paulo Soares). Essa leveza nos permite encarar uma metáfora possível para o nome da peça. 'A gaivota' representa uma harmonia estética natural, algo incompatível com a frustração encarada pelo personagem central da trama, principalmente se lembrarmos o único trecho em que a 'gaivota' é mencionada, e sua presença sugerida, no palco.

O espetáculo, que estreou em João Pessoa em setembro de 2006, passou pelo Riocenacontemporânea,em outubro de 2006 e participou também da IIa. Mostra Latino-Americana de Teatro em maio de 2007, além de ser sensação no último Festival de Teatro de Curitiba. O Piollin Grupo de Teatro comemora com esta montagem trinta anos de atuação juntamente com o seu Centro Cultural Piollin, ex-Escola Piollin, que abriga as atividades do grupo e ações no campo da arte e da educação voltadas para crianças, adolescentes e jovens de camadas populares da cidade.



No Hermilo, Às 20h.

9 de mai. de 2008

.sexta-feira.



o que pensa esta mulher, sentada em sua cadeira, olhando pela janela?

o que ela vê, o que sente, em que(m) pensa?


o que pensava o artista enquanto a pintava?

o que pensava o artista que ela pensava?


acho que ela pensava diferente dele... tão distraída, a coitada... ou preocupada? e seu rosto que eu não vejo, meu deus!




(Cícero Dias, mulher na janela. 1938)

7 de mai. de 2008

.desfile.














N
ada é do tamanho
Do que sinto agora em mim
Nada do que sinto
Foi sentido tanto assim
Só a dor constrói
Só o amor que dói
Só mas com amor
Meu mundo é maior

Nada é do tamanho
Do que já desfila em mim
Filas de escolas
Com milhões de tamborins
E eu sem ter lugar
Pra tanto bem e tanto mal
Tudo isso vem
De pedro álvares cabral
Desde os ancestrais
Desde os canibais
Desde os meus avós
Desde os meus pais
Desde que nasci
Acho natural
Tanta solidão
No esplendor do carnaval.


(Ná Ozetti)

4 de mai. de 2008

.misantropo, eu?

Eu estou chorando agora, neste exato momento, em frente a esta tela de computador. Choro de raiva, pena, sentimento de perda, (i)maturidade, vergonha, felicidade, tudo junto, é terrível chorar assim.

Por que a cidade em que moro, mesmo sendo uma das maiores do país, é tão pequena? tão redondamente minúscula? Odeio coincidências do tipo: te conheci hoje... "ah, e vc conhece fulano?" "Pois é, conheço...". E por aí vai.

Isto me enfraquece, me desgasta, um círculo de pessoas que vai se fechando claustrofobicamente e sempre tenho que lidar com pessoas que não quero, que não sinto necessidade de interagir... malditas convenções sociais, malditas convenções do coração.

Odeio mais ainda que falem de mim sem propriedade, baseados apenas em raivas (?), mágoas (?)... sei lá o quê. Odeio ver pessoas que conheci conhecendo outras que já conheço, que nem conheço... e dando referências sobre mim...

Vai saber...

O que sei é que me sinto cada vez mais longe, cada vez mais afundado em um corredor estreito, gritando fraco por socorro - e ninguém me vê... ninguém tampouco advinha que eu não tento chamar a atenção pro meu desespero... será misantropia?

Pessoas são estranhas. E falo isto baseado em meus comportamentos, não me isento de minha culpa e tampouco quero culpar a todo o mundo...

Pensei que voltar ao ponto de origem seria necessário, costurar pontos que estavam frouxos... mas eu sou covarde demais pra assumir que ainda sofro tanto.

Mas viver é aquele famoso bofete na cara... vamo que vamo que a vida continua e o que me salva neste post é a ligação neste exato momento de uma pessoa muito especial, que talvez ela nem saiba o quanto é especial pra mim! mas é... e humildemente me convida pra ver o mundo com ela, hoje.


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Ninguém é obrigado a entender patavinas, mas isto aqui também serve pra desabafar, né?
Acho bom que sirva, e tenho dito.

... ... domingo [2];

Domingão: o dia clássico pra "não fazer nada, enquanto a mente vagueia soturna pelo tédio das horas".
García Lorca, neste momento, fala por mim tudo o que está engasgado e não quer sair... é uma angústia meio velada, meio sufocante, de algo que não diz tanta coisa... ei-lo :

"Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas,
mas minha senda se perde
na alma da névoa.
A luz me quebra as asas
e a dor de minha tristeza
vai molhando as recordações
na fonte da idéia.

.....Todas as rosas são brancas,
tão brancas como minha pena,
e não são as rosas brancas
porque nevou sobre elas.
Antes tiveram o íris.
Também sobre a alma neva.
A neve da alma tem
copos de beijos e cenas
que se fundiram na sombra
ou na luz de quem as pensa.

.....A neve cai das rodas,
mas a da alma fica,
e a garra dos anos
faz um sudário com elas.

.....Desfazer-se-á a neve
quando a morte nos levar?
Ou depois haverá outra neve
e outras rosas mais perfeitas?
Haverá paz entre nós
como Cristo nos ensina?
Ou nunca será possível
a solução do problema?

.....E se o amor nos engana?
Quem a vida nos alenta
se o crepúsculo nos funde
na verdadeira ciência
do Bem que quiçá não exista,
e do mal que palpita perto?

.....Se a esperança se apaga
e a Babel começa,
que tocha iluminará
os caminhos na Terra?

.....Se o azul é um sonho
que será da inocência?
Que será do coração
se o Amor não tem flechas?

.....Se a morte é a morte,
que será dos poetas
e das coisas adormecidas
que já ninguém delas se recorda?
Oh! sol das esperanças!
Água clara! Lua nova!
Corações dos meninos!
Almas rudes das pedras!
Hoje sinto no coração
um vago tremor de estrelas
e todas as coisas são
tão brancas como minha pena."(canção outonal)

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Últimos acordes neste momento da Paixão Segundo São João, de Bach. Super recomendo, é de chorar de prazer, só de se levar em cada acorde. E mais nada. Poderia passar meu domingo todo assim...