26 de nov. de 2007

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Viver quer dizer viver as dificuldades, ponto. Eventuais perdas servem para nos ensinar sobre muitas coisas, ponto. Olhar pra si e pros outros, e se compreender como parte de algo maior, é assustador, ponto. Já olhei pros que estão ao meu redor hoje? Digo, olhar de fato, com a alma?

Acho que não. Um sorriso, ou gentileza, ou segurança de saber como agir, às vezes tudo faz falta.


Ponto.



Vai em paz, minha querida tia. Daqui ficam as boas lembranças e uma perseverança incrível pela alegria arraigada de viver - força com a qual ela assombrosamente gritava e me enchia de arrepios de vida.



Murilo Mendes me salva nessa hora ( e a Ju, grande Ju, que no alto de nossa distância física me presenteia com algo tão belo, e intenso, e angustiante, e vivo).



"Passam meses e anos perto de nós,
Rodeiam-nos, sentam-se com a gente à mesa,
Comentam a guerra, os telegramas,
Discutem planos políticos e econômicos,
Promovem arbitrariamente a felicidade coletiva.
Conhecem nosso paletó, camisa e gravata,
Nosso sorriso e gesto de mover o corpo.
Têm medo de nos tocar, não conhecem nossas lágrimas.
Que sabem do nosso coração, do nosso desespero, da nossa comunicabilidade.
Que sabem do centro da nossa pessoa, de que são participantes.
... Subúrbios longínquos, esses homens

Entretanto, cada um deve beber no coração do outro.
Todos somos amassados, triturados:
O outro deve nos ajudar a reconstituir nossa forma.
O homem que não viu seu amigo chorar
Ainda não chegou ao centro da experiência do amor.
Para o amigo não existe nenhum sofrimento abstrato.
Todo o sofrimento é pressentido, trocado, comunicado.
Quem sabe conviver o outro, quem sabe transferir o coração.
Ninguém mais sabe tocar na chaga aberta:
Entretanto todos têm uma chaga aberta."