23 de mai. de 2008

.assisti e indico: XXY.




Vi este filme ainda ano passado, na mostra Expectativa/Retrospectiva da Fundaj aqui em Recife. E a reação da platéia foi tão contraditória, com risos maliciosos, que eu ainda não consigo visualizar o porquê de tanto preconceito existente, sobretudo quando o hermafroditismo é tratado como neste filme, de forma tão natural.

Escrito e dirigido por Lucia Puenzo, XXY é baseado no conto Cinismo, do escritor argentino Sergio Bizzio, que é marido da diretora. Foi o grande vencedor da Semana de Críticos de Cannes ano passado.

O florescer da sexualidade pode ser abordado de muitas formas pelo cinema, mas este filme – co-produzido entre Espanha e Argentina – encontra uma forma única de abordar um drama desse gênero ao explorar de forma delicada como uma menina de 15 anos é capaz de enfrentar o fato de ser hermafrodita.

Alex (Inés Efron) vive num povoado de pescadores no Uruguai. Seus pais, Suli (Valeria Bertuccelli) e Kraken (Ricardo Darín, de Nove Rainhas), moravam em Buenos Aires (Argentina), mas, com o nascimento da filha hermafrodita, resolveram mudar-se para o povoado a fim de manter-se longe dos olhos preconceituosos da sociedade. A ação de XXY tem início quando Erika (Carolina Pelleritti), amiga de Suli, viaja ao Uruguai acompanhada por seu marido médico Ramiro (Germán Palácios) e o filho adolescente Alvaro (Martín Piroyansky). A visita da família tem como objetivo definir de vez o gênero de Alex: com os dois órgãos sexuais, ela tem de decidir se quer ser homem ou mulher, escolha concretizada por meio de uma cirurgia.

Ao invés de explorar o drama que envolve a protagonista por conta da escolha, XXY prefere tratar a situação de uma forma sincera e honesta, abordando os tipos de problemas que qualquer outro adolescente teria: o sexo, a vergonha em relação ao próprio corpo, a insatisfação com a vida. Claro que todos esses problemas são únicos em relação a Alex por conta de sua situação. O filme se passa muito próximo ao mar, onde existem espécies naturalmente hermafroditas, como os cavalos marinhos, como uma forma de aproximar a personagem à “normalidade”.

Todos os dramas do longa são tratados de forma digna, como se os personagens sofressem sempre sozinhos. Por isso, sua boa interpretação é crucial para que o espectador emocione-se de forma quase que involuntária. XXY passa longe de qualquer tipo de sensacionalismo que o tema poderia acarretar e esse é um dos grandes méritos do filme, dirigido por Lucia Puenzo. Tudo é desenvolvido tendo como base a situação psicológica de cada personagem; por isso, são todos muito bem-desenvolvidos, com destaque para a atuação fria e contida de Ricardo Darín, que dá a densidade necessária ao seu papel.

Pois bem, eis que o filmaço volta a fundaj. Corram. E reflitam.




(fontes: yahoo cinema, cineplayers).